segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O trabalhador é um pai, o meu pai.

Meu pai trabalha numa fábrica há quarenta e cinco anos, numa dessas com muitos funcionários. Foi seu primeiro emprego, ele tinha dezessete anos, a idade que eu tenho hoje. O pai dele arranjou o emprego pra ele. O meu pai é pai de três garotos e duas meninas e já perdeu dois amigos, dois pais de três garotos. Meu pai já viu um amigo sendo engolido por uma máquina, e a fábrica deu um certificado de agradecimento pra família, uma família sem pai. 
Pouco depois meu pai quase perdeu o dedo pra mesma máquina, a máquina que matou o amigo dele, e que já sugou toda a inocência e sonhos do garoto de dezessete anos, a idade que eu tenho hoje. Vi meu pai sendo preso a uma máquina a vida toda, e tudo por lucro. Meu pai não recebeu presente do dono da fábrica, e nem é lembrado como pai, muito menos como gente. Meu pai é máquina. Máquina dessas que ficam quarenta e cinco anos sem descanso, sem defeito, mas quase sem dedo.

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