domingo, 3 de agosto de 2014

Sobre o Maoismo.

NA FAMÍLIA Mao Tse Tung foi um revolucionário chinês que nasceu no dia 26 de dezembro de 1893. Era filho de agricultor. Com seis anos começou a trabalhar. Com oito anos começou a frequentar a escola. Nessa época Mao gostava de ler livros de história de amor e de revolta de camponeses, etc. Esses livros eram proibidos na China. Mao vivia um conflito com seu pai. Ele queria que seu filho estudasse para administrar os bens da família. Queria ficar rico. Mao reagia contra a imposição do pai e tinha o apoio da mãe. A ESCOLA, O TRABALHO E A LUTA Quando Mao começou a estudar na escola secundária ele fundou uma Associação dos Estudantes do Povo. O objetivo da Associação era combater as drogas, prostituição, o jogo de azar, a bebida alcoólica e a corrupção. Ainda jovem Mao ajudou a organizar uma luta contra os japoneses que exploravam a China. O Governo do Estado (província) reprimiu a manifestação e ameaçou mandar matar Mao Tse Tung. Mao escreveu um Manifesto, colheu assinatura e foi entregar ao governo federal. Através de alguns de seus professores Mao teve acesso à literatura Marxista. Principalmente quando trabalhou na Biblioteca da Universidade. Além de estudante, Mao trabalhou de bibliotecário, como professor e diretor de uma escola. Trabalhou também em uma lavanderia lavando e entregando roupas. OPÇÃO PELA LUTA REVOLUCIONÁRIA Em 1921, Mao participou da fundação do Partido Comunista da China (PCC), um partido do tipo Leninista. Do Congresso participaram 13 revolucionários representando 57 grupos com 123 membros. Mao organizou vários sindicatos e associações de operários entre os ferroviários, marinheiros, mineiros, pescadores, etc. Mesmo tendo feito esse trabalho com os operários, Mao defendia a necessidade de priorizar a organização dos camponeses como força principal da Revolução Chinesa. Fez uma pesquisa com os camponeses e escreveu uma tese sobre as classes na China, mostrando quem são os amigos e quem são os inimigos do povo. No 2° Congresso do PCC, em 1922, Mao não participou. Perdeu o endereço. O local era clandestino. No 3° Congresso, em 1923, Mao participou e foi escolhido para fazer parte do Comitê Central do Partido. DUAS ORIENTAÇÕES PARA O MESMO PARTIDO O PCC era ligado a 3ª Internacional Comunista fundada por Lênin. Depois' que Lênin morreu, em janeiro de 1924, a Internacional começou ter outra orientação. A orientação da Internacional era para que o PC Chinês priorizasse a classe operária e fizesse aliança com o Partido Nacionalista da China. Essa orientação ia contra a tese de Mao que priorizava os camponeses. Porém, como ele era minoria, aceitou a decisão. Assumiu uma Escola de Formação Política para camponeses criada pelo Partido Nacionalista. Aproveitou desse espaço para formar e organizar os camponeses de sua região sob sua influência e não dos nacionalistas. Em 1927, os operários de Xangai e outras grandes cidades iniciam uma greve contra as empresas estrangeiras e contra o Governo. A nova direção do Partido Nacionalista composta de militares reacionários desencadeia uma repressão violenta contra os operários e seus líderes comunistas. Mao é orientado pelo Comitê Central do PC para iniciar um levante em sua região a partir das organizações que foram criadas junto aos camponeses. Também foram massacradas. A partir dessa experiência desastrosa, Mao reforçou sua tese de que na China a luta tinha que ser diferente do que foi na Rússia. Na China a prioridade tinha que ser os camponeses e não os operários. A luta tinha que ser através de uma Guerra Popular Prolongada. Isso a partir de uma Base Organizada em uma área rural onde os camponeses já fossem fazendo a experiência de Poder Soviético (Popular). A partir dessas bases rurais é que se cercariam as cidades para tomar o Poder. Isso era diferente da Estratégia da Revolução Russa de Lênin, que era a tomada do Poder Político a partir da Insurreição das cidades e depois é que foi para o campo. O que Mao chamava de Governo Soviético, era diferente do Soviets Russo. Na Rússia os Soviéts (Conselhos) eram organizações políticas formadas por representes (delegados) eleitos pelos operários, camponeses e soldados. A proposta de Mao era uma organização econômica, política e militar fixa em uma área. Por causa dessas ideias de Mao, ele é destituído do Comitê Central do PCC. SURGE A PRIMEIRA COMUNA POPULAR No final de 1927 e início de 1928, Mao junto com os companheiros que sobraram da luta fracassada, iniciou a construção de uma Comunidade Popular. Escolheu uma área que ficava entre as montanhas de difícil acesso. Situava-se na região onde ele atuava. Em poucos anos a Comunidade se expandiu para uma região de 20 mil quilômetros com 3 milhões de habitantes. Além da Reforma Agrária, foi criado um hospital na área. Foi também construída uma fábrica de roupas. Havia um imposto pago ao Governo da Comunidade. No aspecto político, foi formado um Conselho (Soviets) Popular para administrar a Comuna. No Setor Militar foi organizado o Exército Vermelho (nome também influenciado pela Rússia). Mais tarde passou a se chamar Exército de Libertação Popular (ELP). A tarefa principal do Exército Vermelho era defender a Comuna Popular. O Comitê Central do PCC continuava a orientar para o Exército Vermelho atacar as cidades e tomar o Poder. Mao e o PC local defendiam que a prioridade era defender a área conquistada para fortalecer a Base. No aspecto ideológico foi criada uma série de normas e orientações no sentido de respeito e solidariedade dos guerrilheiros com o povo e com os prisioneiros das tropas inimigas. Até os bandidos que moravam na região, foram organizados para não fazer maldades ao povo e ajudar a defender a Comuna Popular. Embora, depois, tenham voltado ao banditismo e acabaram sendo executados pelo povo. Em todos os setores era praticada a Democracia Popular. Lançavam-se orientações (palavras de ordem) e, a partir da prática, ia-se criando as normas que viravam leis na Comunidade. Ninguém tinha privilégios por ser dirigente comandante ou administrador. Tudo isso era o contrário de tudo o que havia na China. Em 1930, os dirigentes do PCC começam a reconhecer os acertos da Estratégia de Mao. Ele é restituído ao Comitê Central, função que havia perdido devido suas posições políticas contrárias às orientações do Comitê Central. A partir dessa Comuna, outras vão surgindo. Em 1931, realiza-se o 10 Congresso das Comunas Populares com 610 delegados. Mao é eleito seu presidente. ROMPENDO O CERCO Diante do avanço das Comunas Populares, o Exército do Governo dos ricos da China tenta destruí-las por meio de cerco à região, ataques cada vez mais seguidos e com maior número de soldados e bloqueio econômico. O Exército Vermelho resiste heroicamente. Porém, em 1934, no 20 Congresso das Comunas Populares, decide-se se retirar estrategicamente da região. Com, 100 mil pessoas, entre soldados, mulheres e crianças, no dia 16 de outubro de 1934, tem início a Longa Marcha. Para romper o cerco das tropas inimigas, organizaram-se as Brigadas Suicidas. Enquanto as Brigadas entregavam suas vidas enfrentando de cara as forças inimigas, as Colunas iam rompendo o cerco. Só dois dias depois é que as tropas inimigas perceberam que o Exército Vermelho tinha saído da área com 100 mil pessoas. A LONGA MARCHA Enfrentando as tropas nacionalistas e todo o tipo de dificuldades como fome, doença, frio e calor, a Longa Marcha caminhou 10 mil quilômetros, atravessaram 24 rios. Depois de caminhar durante um ano, chegou ao seu destino no noroeste do país. Das 100 mil pessoas que iniciaram a Marcha, só 20 mil chegaram ao destino. A maioria morreu ou ficou para trás. Alguns ficaram com a tarefa de organizar o povo nos locais onde passaram. A NOVA COMUNA POPULAR Chegando a Yanam foi organizada outra Comuna Popular. Agora com uma população de 50 milhões de habitantes. Organizou-se a economia, a política e a ideologia. O Exército Vermelho passou a se chamar Exército de Libertação Popular (ELP). Foi criada uma Universidade Popular. Além da adesão do povo da região, grupos de fora, inclusive das cidades, vinham viver na Comuna. A região virou um exemplo do que seria a China depois de libertada. Mao casou-se pela 4ª vez. A primeira mulher ele nunca assumiu porque foi imposição do seu pai. A segunda foi executada pelos inimigos junto com a irmã de Mao. A terceira foi ferida na Longa Marcha e acabou morrendo em um hospital na Rússia. A quarta viveu com ele até o fim de sua vida. Mao perdeu também alguns filhos na guerra. A INVASÃO JAPONESA Por ocasião da 2ª Guerra Mundial o Japão invadiu a China. O Exército de Libertação Popular e o PCC dirigido por Mao fizeram uma aliança com o Exército Nacionalista do Partido Nacionalista, dirigido por Chang Kai-Shek. Vencida a guerra contra o Japão, reinicia a Guerra Popular entre os dois exércitos da China. No dia 1º de outubro de 1949, Mao Tse Tung a frente do PCC e do ELP, reunidos na praça de Pequim, capital do país, proclamou a República Popular da China com a seguinte frase: "O POVO CHINÊS JAMAIS SERIA ESCRAVO!" Mao governou a China até 1976, quando morreu, no dia 9 de setembro, com 83 anos de idade. MAO NO GOVERNO Durante os 25 anos que Mao governou a China, procurou desenvolver uma política diferente da desenvolvida na Rússia. No lugar da economia, Mao priorizava a ideologia. Segundo ele a ideologia devia comandar a economia. Assim, como durante a Guerra Popular Prolongada o soldado era mais importante do que as armas. Agora, também na luta pelo desenvolvimento econômico e social, o trabalhador devia ser mais importante do que a máquina. A motivação ideológica deveria ser mais forte do que o interesse material. As Comunas Populares, iniciadas a partir do interior, onde a terra, indústria, comércio e serviço social, etc., deviam ser coletivos, seriam a base da China Socialista. Na política, a PARTICIPAÇÃO DIRETA DAS MASSAS, através de suas organizações populares nos locais de trabalho, moradia e de estudo, era a base da Democracia Popular. A pesquisa e as pequenas experiências eram a base para as orientações formuladas pela direção. Devolvidas para o povo, a massa assumia como suas e as transformava em uma força poderosa. Era o MÉTODO LINHA DE MASSAS. Para evitar a burocratização dos dirigentes, em 1966, Mao lançou a Revolução Cultural Proletária. Era um meio de as massas, principalmente a juventude, poder criticar e até destituir seus dirigentes burocratizados nas fábricas, escolas, órgãos do governo, etc. Segundo Mao, mesmo no Socialismo a luta de classes continua. Inclusive dentro do Partido, onde haveria duas linhas em luta. Uma para fazer avançar o Socialismo e outra tentando restaurar o capitalismo. Porém, as contradições no meio do povo não são antagônicas, por isso a solução é buscada pela persuasão (diálogo, debate) e não pela pressão autoritária. A violência só se justifica contra os inimigos do povo. Em 1962, a China rompe as relações com a União Soviética. Aquele país, além do autoritarismo do governo socialista da época de Stálin (substituto de Lênin), com a morte de Stálin, em 1953, o novo governo soviético descambou para o reformismo, abandonando o Marxismo- Leninismo. Assim, a Revolução Chinesa passou a ser uma referência para os revolucionários do resto do mundo. Com a morte de Mao, a linha mais economicista do PCC passou a predominar no Governo da China, e é quem governa até hoje. Apesar disso, a China continua com um Partido Leninista e está se tomando a maior potência econômica do mundo. Enquanto que, na União Soviética, há mais de 20 anos acabou tudo o que foi conquistado com o socialismo. Retomou ao capitalismo depois que seus dirigentes foram corrompidos. QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO MAOÍSMO OU O QUE O MAO ACRESCENTOU AO MARXISMO-LENINISMO? Mao, como o Lênin, não usou o Marxismo como uma receita para fazer um bolo. Pelo contrário, com a ciência Marxista (Materialismo Dialético, Materialismo Histórico e o Socialismo Científico) Mao estudou profundamente a realidade do povo chinês, sua história, sua economia, suas tradições política, ideológica e militar. A partir disso, formulou uma Estratégia para a Revolução Chinesa. O primeiro acréscimo que Mao fez ao Marxismo foi a questão da ideologia. Antes era vista mais como teoria. A ideologia como sentimento, emoção, símbolos, costumes, representações, etc., era vista só no aspecto negativo. Por exemplo: a religião era vista apenas como ópio (droga) do povo. Com Mao, a ideologia não fica só no aspecto da teoria, passa a absorver os sentimentos também. Como consequência desse novo conceito de ideologia, surge o Método Linha de Massas. O que é esse Método? Se Lênin dizia que precisava fazer a fusão da teoria socialista com a luta de classes, porque essa teoria vem de fora, elaborada pelos intelectuais. Mao afirmava que ANTES DE ENSINAR AO POVO DEVEMOS APRENDER COM ELE. Por isso devemos sempre PARTIR DO NÍVEL DO POVO. Como fazemos para tirar água do poço. Para isso o melhor instrumento é a PESQUISA. Pesquisar, Arrumar e Devolver para o povo, para ele por em prática. Para agir assim o militante deve VIVER NO MEIO DO POVO COMO PEIXE DENTRO D'ÁGUA. Se sair morre. Em nossas áreas nós aplicamos o método linha de massas? Dê exemplo Outro acréscimo que Mao fez ao Marxismo-Leninismo é a Estratégia de CRIAR O PODER ANTES DE TOMAR O PODER. Ou seja, criar as Comunas Populares aonde o povo já vai fazendo sua experiência junto com seu Partido e seu Exército. As Comunas Populares são diferentes dos Soviets (Conselhos) criados na Rússia, nas vésperas da Revolução Socialista. Os Soviets eram mais organizações políticas, como já vimos. Enquanto que as Comunas Populares eram Comunidades econômicas, sociais, política e militar. A Comuna atingia um determinado território onde era governado e administrado de forma autônoma do Poder Central dos ricos. Elas serviam de base econômica e política do Exército de Libertação Popular. Pois segundo Mao a Guerra' Popular seria Prolongada.

As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo

A doutrina de Marx suscita em todo o mundo civilizado a maior hostilidade e o maior ódio de toda a ciência burguesa (tanto a oficial como a liberal), que vê no marxismo um a espécie de "seita perniciosa". E não se pode esperar outra atitude, pois, numa sociedade baseada na luta de classes não pode haver ciência social "imparcial". De uma forma ou de outra, toda a ciência oficial e liberal defende a escravidão assalariada, enquanto o marxismo declarou uma guerra implacável a essa escravidão. Esperar que a ciência fosse imparcial numa sociedade de escravidão assalariada seria uma ingenuidade tão pueril como esperar que os fabricantes sejam imparciais quanto à questão da conveniência de aumentar os salários dos operários diminuindo os lucros do capital. Mas não é tudo. A história da filosofia e a história da ciência social ensinam com toda a clareza que no marxismo não há nada que se assemelhe ao "sectarismo", no sentida de uma doutrina fechada em si mesma, petrificada, surgida à margem da estrada real do desenvolvimento da civilização mundial. Pelo contrário, o gênio de Marx reside precisamente em ter dado respostas às questões que o pensamento avançado da humanidade tinha já colocado. A sua doutrina surgiu como a continuação direta e imediata das doutrinas dos representantes mais eminentes da filosofia, da economia política e do socialismo. A doutrina de Marx é onipotente porque é exata. É completa e harmoniosa, dando aos homens uma concepção, integral do mundo, inconciliável com toda a supertição, com toda a reação, com toda a defesa da opressão burguesa. O marxismo é o sucessor legítimo do que de melhor criou a humanidade no século XIX: a filosofia alemã, a economia política inglesa e o socialismo francês. Vamos deter-nos brevemente nestas três fontes do marxismo, que são, ao mesmo tempo, as suas três partes constitutivas. I A filosofia do marxismo é o materialismo. Ao longo de toda a história moderna da Europa, e especialmente em fins do século XVIII, em França, onde se travou a batalha decisiva contra todas as velharias medievais, contra o feudalismo nas instituições e nas idéias, o materialismo mostrou ser a única filosofia conseqüente, fiel a todos os ensinamentos das ciências naturais, hostil à supertição, à beatice, etc. Por isso, os inimigos da democracia tentavam com todas as suas forças "refutar", desacreditar e caluniar o materialismo e defendiam as diversas formas do idealismo filosófico, que se reduz sempre, de um modo ou de outro, à defesa ou ao apoio da religião. Marx e Engels defenderam resolutamente o materialismo filosófico, e explicaram repetidas vezes quão profundamente errado era tudo quanto fosse desviar-se dele. Onde as suas opiniões aparecem expostas com maior clareza e pormenor é nas obras de Engels Ludwig Feuerbach e Anti-Dübring, as quais - da mesma forma que o Manifesto Comunista - são os livros de cabeceira de todo o operário consciente. Marx não se limitou, porém, ao materialismo do século XVIII; pelo contrário, levou mais longe a filosofia. Enriqueceu-a com as aquisições da filosofia clássica alemã, sobretudo do sistema de Hegel, o qual conduzira por sua vez ao materialismo de Feuerbach. A principal dessas aquisições foi a dialética, isto é, a doutrina do desenvolvimento na sua forma mais completa, mais profunda e mais isenta de unilateralidade, a doutrina da relatividade do conhecimento humano, que nos dá um reflexo da matéria em constante desenvolvimento. As descobertas mais recentes das ciências naturais - o rádio, os elétrons, a transformação dos elementos - confirmaram de maneira admirável o materialismo dialético de Marx, a despeito das doutrinas dos filósofos burgueses, com os seus "novos" regressos ao velho e podre idealismo. Aprofundando e desenvolvendo o materialismo filosófico, Marx levou-o até ao fim e estendeu-o do conhecimento da natureza até o conhecimento dasociedade humana. O materialismo histórico de Marx é uma conquisto formidável do pensamento científico. Ao caos e à arbitrariedade que até então imperavam nas concepções da história e da política, sucedeu uma teoria científica notavelmente integral e harmoniosa, que mostra como, em conseqüência do crescimento das forças produtivas, desenvolve-se de uma forma de vida social uma outra mais elevada, como, por exemplo, o capitalismo nasce do feudalismo. Assim, como o conhecimento do homem reflete a natureza que existe independentemente dele, isto é, a matéria em desenvolvimento, também o conhecimento social do homem (ou seja: as diversas opiniões e doutrinas filosóficas, religiosas, políticas, etc.) reflete o regime econômico da sociedade. As instituições políticas são a superestrutura que se ergue sobre a base econômica. Assim, vemos, por exemplo, como as diversas formas políticas dos Estados europeus modernos servem para reforçar a dominação da burguesia sobre o proletariado. A filosofia de Marx é o materialismo filosófico acabado, que deu à humanidade, à classe operaria sobretudo, poderosos instrumentos de conhecimento. II Depois de ter verificado que o regime econômico constitui a base sobre a qual se ergue a superestrutura política, Marx dedicou-se principalmente ao estudo deste regime econômico. A obra principal de Marx, O Capital, é dedicada ao estudo do regime econômico da sociedade moderna, isto é, da sociedade capitalista. A economia política clássica anterior a Marx tinha-se formado na Inglaterra, o país capitalista mais desenvolvido. Adam Smith e David Ricardo lançaram nas suas investigações do regime econômico os fundamentos da teoria do valor-trabalho. Marx continuou sua obra. Fundamentou com toda precisão e desenvolveu de forma conseqüente aquela teoria. Mostrou que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário investido na sua produção. Onde os economistas burgueses viam relações entre objetos (troca de umas mercadorias por outras), Marx descobriu relações entre pessoas. A troca de mercadorias exprime a ligação que se estabelece, por meio do mercado, entre os diferentes produtores. O dinheiro indica que esta ligação se torna cada vez mais estreita, unindo indissoluvelmente num todo a vida econômica dos diferentes produtores. O capital significa um maior desenvolvimento desta ligação: a força de trabalho do homem torna-se uma mercadoria. O operário assalariado vende a sua força de trabalho ao proprietário de terra, das fábricas, dos instrumentos de trabalho. O operário emprega uma parte do dia de trabalho para cobrir o custo do seu sustento e de sua família (salário); durante a outra parte do dia, trabalha gratuitamente, criando para o capitalista a mais-valia, fonte dos lucros, fonte da riqueza da classe capitalista. A teoria da mais-valia constitui a pedra angular da teoria econômica de Marx. O capital, criado pelo trabalho do operário, oprime o operário, arruína o pequeno patrão e cria um exercito de desempregados. Na indústria, é imediatamente visível o triunfo da grande produção; mas também na agricultura deparamos com o mesmo fenômeno: aumenta a superioridade da grande exploração agrícola capitalista, cresce o emprego de maquinaria, a propriedade camponesa cai nas garras do capital financeiro, declina e arruína-se sob o peso da técnica atrasada. Na agricultura, o declínio da pequena produção reveste-se de outras formas, mais esse declínio é um fato indiscutível. Esmagando a pequena produção, o capital faz aumentar a produtividade do trabalho e cria uma situação de monopólio para os consórcios dos grandes capitalistas. A própria produção vai adquirindo cada vez mais um caráter social - centenas de milhares e milhões de operários são reunidos num organismo econômico coordenado - enquanto um punhado de capitalistas se apropria do produto do trabalho comum. Crescem a anarquia da produção, as crises, a corrida louca aos mercados, a escassez de meios de subsistência para as massas da população. Ao fazer aumentar a dependência dos operários relativamente ao capital, o regime capitalista cria a grande força do trabalho unido. Marx traçou o desenvolvimento do capitalismo desde os primeiros germes da economia mercantil, desde a troca simples, até às suas formas superiores, até à grande produção. E de ano para ano a experiência de todos os países capitalistas, tanto os velhos como os novos, faz ver claramente a um numero cada vez maior de operários a justeza desta doutrina de Marx. O capitalismo venceu no mundo inteiro, mas, esta vitória não é mais do que o prelúdio do triunfo do trabalho sobre o capital. III Quando o regime feudal foi derrubado e a "livre" sociedade capitalista viu a luz do dia, tornou-se imediatamente claro que essa liberdade representava um novo sistema de opressão e exploração dos trabalhadores. Como reflexo dessa opressão e como protesto contra ela, começaram imediatamente a surgir diversas doutrinas socialista. Mas, o socialismo primitivo era um socialismo utópico. Criticava a sociedade capitalista, condenava-a, amaldiçoava-a, sonhava com a sua destruição, fantasiava sobre um regime melhor, queria convencer os ricos da imoralidade da exploração. Mas, o socialismo utópico não podia indicar uma saída real. Não sabia explicar a natureza da escravidão assalariada no capitalismo, nem descobrir as leis do seu desenvolvimento, nem encontrar a força social capaz de se tornar a criadora da nova sociedade. Entretanto, as tempestuosas revoluções que acompanharam em toda a Europa, e especialmente em França, a queda do feudalismo, da servidão, mostravam cada vez com maior clareza que a luta de classes era a base e a força motriz de todo o desenvolvimento. Nenhuma vitória da liberdade política sobre a classe feudal foi alcançada sem uma resistência desesperada. Nenhum país capitalista se formou sobre uma base mais ou menos livre, mais ou menos democrática, sem uma luta de morte entre as diversas classes da sociedade capitalista. O gênio de Marx está em ter sido o primeiro a ter sabido deduzir daí a conclusão implícita na história universal e em tê-la aplicado conseqüentemente. Tal conclusão é a doutrina da luta de classes. Os homens sempre foram em política vítimas ingênuas do engano dos outros e do próprio e continuarão a sê-lo enquanto não aprendem a descobrir por trás de todas as frases, declarações e promessas morais, religiosas, políticas e sociais, os interesses de uma ou de outra classe. Os partidários de reformas e melhoramentos ver-se-ão sempre enganados pelos defensores do velho, enquanto não compreenderem que toda a instituição velha, por mais bárbara e apodrecida que pareça, se mantém pela força de umas ou de outras classes dominantes. E para vencer a resistência dessas classes só há um meio: encontrar na própria sociedade que nos rodeia, educar e organizar para a luta, os elementos que possam - e, pela sua situação social, devam - formar a força capaz de varrer o velho e criar o novo. Só o materialismo filosófico de Marx indicou ao proletariado a saída da escravidão espiritual em que vegetaram até hoje todas as classes oprimidas. Só a teoria econômica de Marx explicou a situação real do proletariado no conjunto do regime capitalista. No mundo inteiro, da América ao Japão e da Suécia à África do Sul, multiplicam-se as organizações independentes do proletariado. Este se educa e instrui-se travando a sua luta de classe; liberta-se dos preconceitos da sociedade burguesa, adquire uma coesão cada vez maior, aprende a medir o alcance dos seus êxitos, temperam as suas forças e cresce irresistivelmente. Vladimir Lenin