quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Resistência.

"Eis que surge a resistência no mundo cinzento, em suas roupas de cimento E aparecem as cores que doce e gentilmente vestem as flores Uma pequena abelha lidera a colmeia contra os encarceradores da pureza da ideia Encancerados, eles mesmos, pelo pesado paletó Sufocados pela gravata azul em seu nobre nó. O cimento só de ver verde fica O coração dá palpite quando palpita E a vida da via que via a ida e a vinda das abelhas Surpreendeu-se ao ver-se surpreender-se Com a vida de ida e vinda das abelhas. É claro que incomodou as aranhas de vãos interesses Seres sem ser, que dão mais valor ao ter e não entendem os dizeres Acontece que a vida de vindas e idas das abelhas Era mais bela que a vida monótona nas luxuosas teias A verdificação cheia de vida se levantava contra as edificações pintadas de cinza Ora, se as flores davam vida às abelhas e não aos senhores Que viviam no cimento com suas teias e corpos podres Como poderiam permitir algo tão perigoso ressurgir? A dona abelha nunca se prendia às teias, e já se mostrara demasiada perigosa Foi aí que o Mais Alto Aranha chamou a pequena abelha para uma formal prosa. Mal sabiam os senhores dos vãos interesses, que a abelha dominava os versos e os dizeres Posso dar-te o amor verdadeiro, dentre todos os falsos, pequenino aventureiro Posso dar-te a imortalidade, dentre todos os animais, para viveres por toda a eternidade Posso dar-te tudo o que desejares, se te esqueceres de tua luta insana lá nos pomares Posso dar-te tudo, se abaixares a arma e o escudo Se te esqueceres das flores que não respondem aos teus senhores. À abelha, que não tinha senhores, as palavras não conseguiram apagar a centelha. Nada possuía, apenas sentia. Nada lhe faltava, pois tudo ao seu redor apenas a completava A abelha à aranha fitava e por instantes de segundo vira sua colmeia por trás do ser que lhe falava Fez-se verso no momento como sempre se fizera E pela primeira vez em muitas primaveras, as flores ressurgiram por todo o planeta, agora tomado de poetas."

Nenhum comentário:

Postar um comentário